Segundo a Sociologia, para ingressar em
uma sociedade o indivíduo precisa passar pelo processo de socialização. Graças à ação de
entidades, grupos e instituições sociais o sujeito torna-se sociável, capaz de
conviver no meio em que está inserido. No entanto, podemos verificar facilmente
que a vida em sociedade nem sempre é harmônica e estável e nem sempre as coisas
acontecem dentro daquilo que se espera ou que é previsto. Em todo momento, grupos e indivíduos, em
diversos contextos, realizam ações que não correspondem ao que a sociedade
estabeleceu como normal, certo, ideal ou
legal (de acordo com as leis). Na Sociologia, as ações que não correspondem
ao que foi estabelecido e acordado previamente pela sociedade são chamadas de desvios sociais.
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Alguns
desvios sociais atingem o status de crimes.
Considera-se crime todo desvio social que infringe diretamente a lei penal, gerando prejuízos sociais,
em pequenos ou elevados níveis. As sanções sociais para os crimes são sempre
formais, cabendo ao poder judiciário aplicá-las. Homicídios, racismo, roubos,
poluição de rios, falsidade ideológica (adulteração de documento público ou
particular) são alguns exemplos de crimes. A descrição e a categorização dos
diversos tipos de crime é uma tarefa para as ciências jurídicas (Direito). Para
as Ciências Sociais, em especial a Sociologia, cabe fazer as seguintes
perguntas: quais são as causas do crime
na sociedade? Quais são os fenômenos sociais associados a ele? Que fatores
tendem a diminuir ou elevar sua incidência?
Alguns
sociólogos se dedicaram a compreender o fenômeno da violência, em especial do
crime, na sociedade. Suas análises focalizam geralmente os grupos sociais e os
aspectos amplos da sociedade, desconsiderando o indivíduo por si só. Dentre
esses sociólogos, destacam-se o francês Émile
Durkheim (1858-1917) e o estadounidense Robert Merton (1910-2003). As contribuições e análises desses
pensadores foram muito significativas e serviram de base para diversos estudos
acerca do crime.
Robert Merton, autor contemporâneo
reestruturou o conceito de anomia de Durkheim. Segundo o autor, existe na
sociedade uma estrutura cultural, que
reflete os objetivos a serem alcançados pelos indivíduos – inclui-se ai os
valores, os padrões e as normas ditados socialmente. Atualmente é possível
indicar que fazem parte da nossa estrutura cultural o ingresso no
mercado de trabalho, um nível de consumo satisfatório, o respeito às leis, uma
aparência dentro dos padrões de beleza estabelecidos, a inclusão tecnológica,
dentre outros aspectos. Em suma, trata-se daquilo que a sociedade espera e
exige dos indivíduos. Contudo, indivíduos e grupos estão distribuídos dentro de
uma determinada estrutura social, que
distribui diferenciadamente os recursos para atingirem os objetivos sociais
(estrutura cultural). São alguns desses recursos: educação, renda, contextos
familiares, moradia, segurança, acesso à cultura e outros.
Merton
aponta que as chances de desvio e crime são maiores quando, diante dos
objetivos da estrutura cultural, os indivíduos não possuem os meios para
atingi-los. Dessa forma, é possível concluir que quando os recursos e as
oportunidades sociais são desproporcionalmente distribuídos há mais chances de
ocorrência do crime. É importante salientar que essa explicação não engloba
apenas os elementos materiais, como renda por exemplo, pois caso contrário não
teríamos incidência de crime entre as classe mais favorecidas. Essas
oportunidades e recursos situam-se em diversos aspectos, inclusive no próprio
contexto dos agentes de socialização como a família e a escola.
Compreender
o crime não é uma tarefa tão simples. É preciso relacionar os diversos atores
sociais envolvidos na produção desse fenômeno, bem como valorizar as
particularidades de cada situação ou contexto criminal. Não basta estudar
somente os criminosos, mas também como o restante da sociedade reage ao crime.
Sociologicamente, é preciso compreender as instâncias que se relacionam com
ele, como a escola e o sistema jurídico, o sistema penitenciário, a própria
legislação, entre outros. Também vale ressaltar a importância de não
estigmatizar o crime, seja por aspectos de qualquer ordem (cor, classe, lugar,
sexo ou origem). Caso contrário, estaremos reproduzindo aquilo que a própria
sociedade acaba por fazer, muitas vezes inconscientemente.
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